Jeff – Banho de sangue


Thaisa voltava normalmente da universidade, como fazia todas as noites. Mas naquela sexta-feira alguma coisa estava diferente. A menina não sabia se era o frio ou a densa nevoeiro que tomava conta da cidade. Mesmo achando que alguma coisa estava esquisito, a garota não se importou, pois estava mergulhada em outros pensamentos.

Caminhava ouvindo música no seu celular com um volume bem alto. No player tocava “Dust in the Wind” da banda Kansas. Thaisa pensava em todos os problemas que lhe cercavam.
Na faculdade seu tempo para a entrega de um trabalho final estava quase terminando. Ela não tinha muita culpa, afinal sua pesquisa mesmo lhe exigindo muito empenho, estava saindo melhor do que o esperado. A universitária resolvera fazer uma análise de algumas CreepyPastas, gênero textual moderno, que tinha uma forte energia dentro da internet. Era um trabalho original e complexo. De qualquer modo era preciso se apressar, faltava muito para concluir sua tese.
Já na sua vida particular, havia brigado com o namorado, fazia uma semana que eles não se falavam. Desde que começaram a namorar jamais haviam ficado tanto tempo desentendidos. Ruan as vezes não era um cara muito legal, na última briga do casal o garoto acabara falando algumas bobagens. Não eram coisas sérias, mas a agressividade dele assustava um pouco Thaisa.

O som seguia rolando: “Dust in the wind, all they are is dust in the wind”, quando de repente a música parou e o único barulho que Thaisa passou a escutar era o do vento. Vento que parecia arranhar a noite. O som lembrava um mórbido apito.
Tirou o celular do bolso e descobriu qual era o problema, a bateria havia terminado. Foi só nesse instante que a garota percebeu o quão vazia e escura estava a rua.
Olhou para trás e distante viu alguns estudantes. Isso a deixou mais tranquila e assim conseguiu avançar seu caminho.
Andou alguns metros e dobrou uma esquina. Faltava pouco para chegar em casa, somente mais umas quatro quadras. Caminhou pelo canto da calçada, com os braços em volta do corpo para se defender do frio.
Um barulho sobrepôs o som do vento, barulho de latas de lixo sendo derrubadas. Thaisa quase deu um pulo, pois o som foi alto e repentino.
Com o coração disparado, a mulher olhou para trás.

Se tranquilizou ao descobrir que era apenas um vira-lata, que provavelmente estava procurando algo para comer.
Voltou a olhar para frente e acabou tomando outro susto, esse tão intenso quanto o anterior.
Na esquina logo a sua frente, a garota viu um homem muito estranho. Parecia uma estátua, pois estava totalmente imóvel. Devido a fraca luz da região o sujeito lembrava uma sombra. A moço conseguiu apenas distinguir a roupa do estranho. Ele usava o que parecia ser um casaco branco e na cabeça um capuz.
Thaisa passou a caminhar mais lentamente, teve a impressão de que o estranho estava lhe encarando.
Continuou seguindo e quanto mais se aproximava do homem, mais seus pensamentos ficavam macabros e sujos.

Havia tantas coisas ruins que poderiam lhe acontecer! E se o homem fosse um ladrão? Um estuprador? Em uma rua escura e vazia, qualquer garota ficaria assim ao ver um indivíduo parado na esquina como se lhe esperasse.
Os pensamentos se perderam quando enfim chegou o momento de passar pelo homem. Thaisa fez um pequeno desvio para o lado da rua e passou a poucos centímetros do desconhecido. Ele não se movimentou e a garota agradeceu à Deus por isso.
Depois de ter dado pelo menos uns vinte passos, ela teve aquela famosa sensação que muito já descreveram. A sensação de estar sendo seguida. Não quis olhar para trás, ficou com medo de que dessa vez não fosse um cachorro e sim aquele estranho cara que estava parado na esquina, lhe seguindo.
Resolveu tomar outra atitude. Passou a andar mais rápido e em cinco minutos avistou sua casa.

Sã e salva entrou em sua residência, deixou a mala em um lugar qualquer, checou as mensagens da secretaria eletrônica e foi até a cozinha.
Enquanto pegava a jarra de suco na geladeira, ouviu um longo uivo. O som lhe causou um calafrio. A lua cheia, o homem estranho, agora aquele som. Tudo era tão sinistro, parecia até um filme de terror.
Bebeu o suco e olhou a sua volta. Ficou feliz por estar dentro de sua casa.

Respirou fundo e resolveu que deveria tomar uma ducha antes de ir para a cama. E assim foi, tomou seu banho, que durou um bom tempo, pois a jovem estava exausta e no chuveiro acabou relaxando.
Quando saiu do banho, foi direto para o quarto. Nem acendeu as luzes. Caminhou as escuras para cama, precisava muito de uma boa noite de sono.
Mas antes de tentar adormecer, Thaisa teve uma surpresa. Já estava deitada, quando viu algo que paralisou totalmente seu corpo.
Em um dos cantos de seu quarto, logo ao lado do guarda-roupas, havia algo. Era um vulto, um homem.
A grande sombra estava parado na mesma posição que ela vira na rua, e novamente, mesmo não conseguindo ver seus olhos, a mulher entendeu, que estava sendo encarada.
Thaisa não conseguiu se mexer, nem gritar. O medo dominava seu corpo e então o pior aconteceu.

O homem se moveu e começou a andar em direção à garota. Chegou até os pés da cama e se inclinou para cima. Continuou a subir, indo em direção à vulnerável moça.
De quatro o intruso avançava, como um cachorro.

Lagrimas escorriam dos olhos da garota. Apenas gemidos baixos eram proferidos de sua boca, ela tentava implorar por sua vida, mas as palavras não se formavam, parecia que lhe faltava essa capacidade.
Thaisa era um presa e o desconhecido um caçador, que parecia estar faminto.



Mesmo estando cara a cara, o rosto do homem ainda continuava escuro, não se via nada. A moça apenas sentia a respiração do maníaco em sua cara, uma respiração pesada, ofegante.

O visitante noturno então chegou mais perto, quase lhe beijando e Thaisa nesse momento reconheceu o rosto do maldito. Para ela aquilo não fazia sentido, não podia ser real.
Aqueles olhos negros, o largo sorriso, a pele branca. Era ele, o mais macabro e assustador. Sim, ele, aquele que a tanto tempo a garota estava acostumada estudar e pesquisar.

O monstro riu e baixo sussurrou:

- Shhhhhhhhhhhh, vá dormir…

A facada no pescoço veio logo na sequência. Foi um verdadeiro banho de sangue.

No dia seguinte, quando o namorado de Thaisa entrou na casa, com o objetivo de fazer as pazes, encontrou sua amada mutilada na cama. Os lençóis brancos haviam se transformado em vermelhos. O cheiro de morte impregnava o quarto.
Ruan demorou para ligar a polícia, não acreditava nos seus olhos. No desespero pegou Thaisa em seus braços e observou os grande corte em seu corpo. Algo fora do normal havia atacado sua garota, algum tipo de animal, de monstro, muito forte.
No chão ele viu um bilhete. Pegou, e leu a seguinte mensagem que parecia ter sido escrita a sangue:

- Não se envolva, você pode ser o próximo!

O homem guardou a advertência no bolso. Decidiu que antes de falar com a polícia iria procurar uma forma de se vingar do maldito que acabara com a vida da mulher amada.
O tempo passou e as autoridades chegaram. Examinaram tudo e não deram muitas declarações. Coletaram o depoimento de Ruan e chegaram à conclusão de que não sabiam exatamente o que havia ocorrido.
O caso acabou sendo arquivado com a explicação de que um possível maníaco poderia estar escondido na cidade. Foram feitas buscas, mas de nada foi encontrado.

Mal sabiam os policiais, que a moça havia sido vítima de uma das maiores abominações dos últimos tempos, um homem-demônio, que era real e ao mesmo tempo uma lenda. Um monstro conhecido em toda a internet como Jeff, o Assassino.
Dois dias depois, enquanto pegava algumas de suas coisas na casa da falecida Thaisa, Ruan encontrou um pequeno manuscrito na mesa do computador, o título lhe chamou a atenção:

“Creepypastas! Uma nova maneira de se fazer terror!”

Inconscientemente pegou o documento e colocou debaixo do braço. Não tinha ideia de o quão perigoso era aquilo em que ele estava prestes a se envolver.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comentários Moderados

 

Psicológico Macabro © Copyright | Template by Mundo Blogger |